Professora Janete Miorando
Terra Nova do Norte - MT
No
1º semestre de 2010, na Escola Municipal Norberto Schwantes, iniciamos um curso
sobre Pedagogia de Projetos, que acontecia todas às terças- feiras. No início
foi difícil, pois estávamos desmotivados em relação a elaborar projetos para desenvolver
em nossa escola, pois que já havíamos sofrido retaliações por parte da
comunidade em relação a projetos na escola.
Surgiu
então a Professora Elenir Fanin e o Professor Domingos Jari Vargas, com um
discurso sobre Pedagogia de Projetos, no início fiquei irritada, pois não
acreditava que essa forma de trabalho pudesse vir a nos ajudar e sim viria
somente a deixar-nos mais frustrados do que já estávamos, vou ser sincera, não
gostei da temática, mas decidido pelo grupo resolvemos fazer o estudo que a
professora Elenir e o professor estavam nos propondo.
Chegou
o primeiro encontro, os professores articuladores do estudo pediram para que nós
falássemos sobre alguns projetos que havíamos desenvolvido na escola. Foi difícil,
pois, nada dava certo, não conseguíamos concluir nossos projetos. Foi aí que
veio a grande surpresa. Com a leitura que fizemos da apostila “Elaboração de
Projetos”, nós professores da referida escola percebemos que não estávamos
trabalhando com projetos. Nesse momento eu, particularmente fiquei nervosa, pois
estava certa que já havia desenvolvido alguns projetos com meus alunos, mas
nesse caso, não passavam de estratégias de trabalho.
Começamos a ler e discutir a apostila e
durante os encontros percebi o que realmente é um projeto. O mesmo deve partir
da curiosidade do aluno e não do que o professor quer pesquisar. O professor
deve ser o articulador, mediador, orientador, facilitador e estimulador do
aluno no processo em desenvolvimento, do trabalho durante a realização do
projeto. O professor não deve ter inibições em reconhecer seus próprios
conflitos, erros e limitações e em buscar, esclarecer suas dúvidas numa atitude
de parceria e humildade diante do conhecimento que caracteriza a postura
interdisciplinar.
Na
Pedagogia de Projetos o aluno levanta as hipóteses de acordo com sua
curiosidade, tornando assim o trabalho prazeroso para ele, pois o que está
descobrindo é realmente o que lhe interessa. Nesse intercambio é que o
professor deve “rebolar” e desenvolver os tão famosos conteúdos que devem ser
trabalhados no decorrer do ano.
Toda
criança se desenvolve indo ou não à escola. Ao chegar à escola ela é portadora
de um conhecimento que foi adquirindo durante sua vivência familiar e
comunitária. Cabe à escola então usar estratégias importantes e que estejam de
acordo com o período de desenvolvimento da mesma.
Durante
este curso desenvolvi com meus alunos um projeto com o tema “As Minhocas”. Fiquei
preocupada, pois não dominava o tema que seria estudado, mas no decorrer do tempo,
fui percebendo que os conteúdos que são do núcleo comum surgem de forma
espontânea e que o conhecimento relacionado ao tema vai surgindo durante o
processo, sem que o professor necessite de enormes textos e questionários. Dessa
forma o aluno aprende fazendo, comprovando, testando e tirando suas próprias
conclusões que depois são confrontadas e no debate na sala o professor
direciona para que as crianças cheguem a concluir a resposta mais adequada e
formar assim seu conceito.
Assim, relato aqui um pouco dos momentos significativos
que vivi no decorrer desta experiência.
Depois
de muita angústia e muitos planos, voltei à sala de aula, pronta para desenvolver
um projeto que seria apresentado na Mostra do Conhecimento, evento que acontece
todo ano na escola e na sede do município. Estava tudo pronto, eu já sabia o
que eu ia fazer. Queria trabalhar com meus alunos sobre a fecundação do ovo na
formação do pintinho. Na minha cabeça sabia tudo o que ia fazer, já tinha
início, meio e fim para meu trabalho. Eu dominava todo o conteúdo que seria
desenvolvido durante a pesquisa, resumindo: meu trabalho estava pronto, eu já
havia decidido o que fazer e pronto.
Apresentei
a proposta aos alunos, eles nem se importaram, mas eu queria, insistia, pois eu
tinha certeza que seria bom, “para mim”.
Foi
difícil, eu falava do ovo e eles queriam saber por que não encontravam minhocas
para poderem pescar. Assim, não dei importância na fala deles, pois para
começar eu tinha medo de minhocas, nunca peguei uma na mão, não sabia nada
sobre esses animais.
Durante
um encontro de formação desabafei com o grupo:
-
não sei o que fazer, eu falo para meus alunos do ovo e eles falam das minhocas.
Estou em pânico, não posso fazer um projeto sobre minhocas, não sei nada sobre
o assunto, o que vou fazer?
O professor Domingos achou o máximo,
professora Elenir ficou feliz e falou que eu já tinha um começo, eu não via
nada de começo.
Voltei
à sala e demonstrei interesse em trabalhar o que eles estavam querendo saber,
foi uma enxurrada de questões que os alunos falaram sobre suas curiosidades: “Onde as minhocas vivem?”; “O que
elas comem?”; “Como elas andam?”; “Como as minhocas nascem?”; “Como é seu corpo?”;
“Minhoca tem boca e Ânus?”; “Minhoca faz cocô?”; “Minhoca vive somente em solo
úmido ou pode ser seco?”; “Minhoca vive se colocada dentro da água?”; “Pra que
serve a minhoca?”.
Iniciei o trabalho, a cada aluno que
ia passando eu ia sentindo uma força que vinha dos alunos, o meu trabalho
inverteu, eles falavam o que queriam saber e eu só direcionava buscando
alternativas, eles me davam sugestões de como fazer e juntos nós íamos montando
as estratégias de trabalho.
Trabalhando dessa forma, os meus alunos
formavam seus conceitos sobre os conteúdos sem que eu ficasse horas e horas no
quadro, no livro passando textos e questionários, foi maravilhoso o resultado.
A cada aula eu me sentia feliz, ao
ver as crianças produzindo e olha que meus alunos são crianças de 7 anos, estão
sendo alfabetizados agora. Consegui desenvolver o projeto e dentro dele
trabalhar conceitos que só se trabalha com alunos de 4ª série. Todos os meus
alunos leem, escrevem pequenos textos e têm um conhecimento científico
ampliado, aberto.
Durante o desenrolar do projeto,
trabalhamos pesquisa de campo, colhendo minhocas, observando com auxílio da
lupa, comparávamos o que víamos com o que pesquisávamos no laboratório de
informática.
Por várias vezes tive que ter a
humildade em dizer para as crianças que não sabia o que eles queriam saber,
esse momento era emocionante, eles se sentiam importantes em poderem ir junto
comigo e descobrir o que estávamos querendo saber, comemorávamos juntos cada
descoberta.
Continuando as atividades, levei-os
ao laboratório para que representassem o tux paint como a minhoca vive e se
movimenta embaixo da terra, confesso que achei impossível, pois é difícil, qual
não foi meu espanto quando percebi que eles
estavam conseguindo e vibravam a cada parte que desenhavam e pintavam,conseguiram
salvar e guardar em uma pasta com seu nome, fiquei emocionada, pois no inicio
do trabalho achei que não daria certo e agora estava surpresa, meus alunos
estavam fazendo um trabalho que muitos não conseguiriam.
Chegou o dia da apresentação, eu
estava tensa, era meu primeiro projeto que estava dando certo; os alunos
ansiosos, mas sabia que eles estavam preparados.
Foi a maior emoção que senti ao ver
os alunos explicando o trabalho de uma forma incrível, surpreendendo a cada
pessoa que ali chegava, dominando o assunto respondendo as perguntas que eram
feitas, sobre alimentação, respiração, reprodução, importância das minhocas
para a natureza, etc.
Confesso que chorei, abracei meus
alunos e percebi que eles aprenderam e eu aprendi com eles, essa forma de
trabalho criou entre nós um laço afetivo muito grande.
Entendi agora que um projeto só pode
dar certo se for construído junto com os alunos.
Eu me sinto orgulhosa em dizer: -
Meus alunos apresentaram um projeto.
A partir de agora só vou trabalhar
dessa forma, pois é mais prazeroso e o aluno aprende de verdade, mas vou
confessar uma coisa, o professor tem que se preparar a cada dia, e de acordo
com o que seu aluno falou no dia anterior.
O mais lindo era quando eu falava
para eles: - isso eu não sei! Todos queriam descobrir a resposta para passar
para mim, as crianças não viam o professor como o dono do saber, e sim como
alguém que estava interessado em aprender o que eles decidiram pesquisar.
A avaliação que eu fiz com os alunos foi
através de um cartaz onde eles recortaram e colaram figuras a respeito do que
havíamos pesquisado, no final comuniquei a eles que tinham feito uma avaliação.
Os alunos ficaram felizes, e uma aluna comentou: - Professora, eu fiz uma
avaliação? Nossa hoje eu não fiquei nervosa, e parece que só era mais uma
pesquisa de nosso projeto.
Por isso professor observe seus
alunos e dessa forma você vai trabalhar gostoso e sem estresse. Seja feliz,
trabalhe de acordo com as curiosidades deles e os conteúdos vão aparecendo de
uma forma que eu não sei explicar.
Tudo isso só é possível se a gente
estiver firmado em teorias para explicar a comunidade que o caderno do aluno
passa até ter pouca coisa, mas a cabeça deles está cheia de idéias, de
informações e conhecimento.
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